quinta-feira, 29 de maio de 2008

Visita ao matadouro

Em pauta:
Posto a segunda parte do texto escrito por Sérgio Greif. Nesta segunda parte é abordado como os suínos e as aves sofrem nos matadouros.
Matadouro de suínos
O abate de suínos é um pouco diferente do abate de bovinos. Alguns dos matadouros que conheci simplesmente não o faziam, outros reservavam um dia da semana para o abate de suínos e apenas um possuía um programa de abate constante de suínos. Os porcos são criados em sistema de confinamento, diferente do gado bovino no Brasil. Estes animais são criados em baias cobertas e muitas vezes ficam isolados do chão. Recebem ração de engorda e jamais tem a possibilidade de chafurdarem a terra, comer grama, etc. a idéia é que o animal receba alimentos calóricos e que gaste pouca energia movimentando-se. Desta forma o animal ganha peso em menor tempo. Nos últimos dias, os que antecedem o abate, o animal recebe menos ração e um ou dois dias antes recebe apenas água. Isto se dá para que na hora do corte, haja menos fezes transitando pelo trato digestivo, o que facilita a limpeza da carcaça do animal.Os suínos chegam em um caminhão de transporte, em engradados empilhados em 4 andares, as fezes dos porcos de cima caem sobre os porcos de baixo e o cheiro do caminhão como um todo é insuportável, mesmo quando se está dirigindo atrás de um destes em uma rodovia, a 120 km/hora. No matadouro, os engradados contendo os animais são descarregados sem grandes cuidados. Os animais são forçados a saírem à base de pontapés ou sendo cutucados por porretes. No terreiro de espera, os animais ouvem o que se passa com os que já adentraram a sala do matadouro, e se desesperam. Não pude deixar de notar, em uma de minhas visitas a um destes matadouros, que em momento algum os porcos silenciavam. O tempo todo em que os animais aguardavam no terreiro, um funcionário do matadouro tentava acalmá-los, batendo-lhes com um porrete. Da mesma maneira, para que entrassem na sala de abate, os animais eram conduzidos com chutes e clavadas.Na sala de abate o animal recebe um eletrochoque, que lhe causa uma paralisia, mas certamente não a sua morte. O animal é então suspenso por uma das pernas e degolado com uma faca (o sangue é recolhido para um tanque) e suas tripas são retiradas. Em seguida ele é mergulhado em um tanque de água fervente e depois é desmembrado. Devido à velocidade com que este processo ocorre, algumas vezes o animal é mergulhado ainda vivo e consciente na água fervente, e chega ainda piscando os olhos na mesa de corte e esfola.
Abatedouro de aves
O abate de aves ocorre em estabelecimentos especiais denominados “abatedouros de aves”. Conheci abatedouros grandes, das maiores empresas nacionais e que vendem seus produtos para o mundo inteiro. Por este motivo, o fluxo de atividades nestes estabelecimentos é constante. Vê-se filas de caminhões trazendo frangos de diversas granjas para serem abatidos. Os animais são transportados em pequenas gaiolas contendo 5 ou 6 aves, muitas delas já chegam mortas devido ao estresse do transporte e ao tempo de espera. Presenciar o descarregamento destes animais é uma visão única. As gaiolas são abertas, e os animais são presos pelas patas, de cabeça para baixo, em ganchos presos a uma esteira. Os animais perecem não ter reação nenhuma. Certa vez vi a esteira parar para o almoço dos funcionários, algumas gaiolas já estavam abertas. As aves continuaram ali, mesmo as que saíram das gaiolas apenas se empoleiraram na grade, não tiveram o impulso de sair. Uma das aves que foi parar embaixo do caminhão ficou lá por mais de uma hora. Não é que estes animais não tivessem amor por sua própria vida, mas sim o fato de que jamais tiveram a oportunidade de exercitar seus músculos. A maioria daqueles animais tinha cerca de 45 dias de vida e foram criados para terem coxas e peitos macios e enormes, não para andarem por aí. Por este motivo, eram incapazes de dar mais do que alguns passos. Nas esteiras, os animais são levados para a sala onde ocorre o abate. Ali recebem um choque de pequena voltagem, que deveria servir para atordoá-los, mas na verdade, apenas deixa as aves mais agitadas. Pergunto por que não aumentam a voltagem, desta forma as aves simplesmente morreriam ou seriam ao menos atordoadas. O gerente de produção me explica que se eles aumentassem a voltagem o animal de fato morreria, mas isto também endureceria a carne. Elas seguem então para uma máquina que procede a degola automática e depois tomam um banho escaldante. São então depenadas e estrinchadas. Muitas vezes ainda estão vivos quando chegam a estas ultimas etapas, tendo sobrevivido inclusive à fervura. Presenciei inclusive animais que em uma ou outra fase do processo se soltam dos ganchos e caem no chão, ficando lá se debatendo. Os funcionários não fazem nada para abreviar seu sofrimento, pois não podem se desligar de suas atividades na esteira. Desta forma, a morte destes animais é ainda mais lenta e dolorosa. Quem são os responsáveis por estas mortes? Mesmo uma pessoa sensível, quando exposta a estas cenas durante cinco dias por semana, oito horas por dia, acaba se insensibilizando. Esta é a realidade do funcionário de um matadouro. Se estes são homens truculentos e rudes, é porque seu meio de vida os tornou assim. Certamente se estas pessoas conservassem sua sensibilidade, não seriam qualificados para seu trabalho.Mas seu trabalho somente existe porque alguém os paga para fazê-lo. Então o funcionário do matadouro não deve ser visto como o único culpado pela morte destes animais. O proprietário do abatedouro tampouco, porque ele apenas mantém seu estabelecimento, já que alguém compra seus produtos. Os açougues e supermercados a mesma coisa. Apenas quem pode impedir que estas mortes continuem ocorrendo é o consumidor. O consumidor sim, aquele que se sente desconfortável em visitar um matadouro, que prefere não saber a verdade, se poupar de vislumbrar estas cenas, que prefere esquecer que os pedaços de carne em peças eram um animal poucos dias antes. Este sim é o verdadeiro responsável. Estamos prontos para nos indignar com a matança de bebês foca no Canadá, com a caça de raposas para fazer casaco de pele ou com o consumo de carne de cachorro na China. Estamos prontos para levantar bandeiras em defesa das baleias, da Amazônia ou doar algum dinheiro para o Greenpeace. E todas estas coisas de fato são importantes, mas estão muito distantes de nossa realidade. É fácil não ter um casaco de pele de raposa ou de foca, é fácil não ser culpado da morte destes animais e é mais fácil ainda condenarmos a pessoa que faz uso destes objetos. Mas a morte de uma vaca, um suíno, um frango, ou seja lá qual for o animal, não deveria receber consideração diferente apenas porque sua utilização é tradicional segundo nosso ponto de vista. Qualquer pessoa que participe de seu ciclo de exploração é culpado pela morte de um animal, seja ele nativo, exótico, abundante ou esteja em vias de extinção. O fato de percebermos a criação e morte de animais em matadouros como um fato banal apenas agrava esta situação. Estes animais não viveram existências condizentes com os hábitos de sua espécie e em determinado dia foram abatidos no campo. Eles levaram vidas indescritivelmente sofridas e tiveram um fim doloroso. E se isto não está errado, nada no mundo está. Não me tornei vegetariano por haver presenciado as cenas que descrevi acima. Eu já o era há mais de 20 anos. Haver visitado alguns matadouros e abatedouros de aves apenas serviu para fortalecer minha sensação de que eu estava no caminho certo. Saber que não faço parte disto, de certa forma, me confortava. Também me dava a certeza de que eu deveria dizer às pessoas o que vi, e da importância de se conscientizarem a respeito desses fatos.

Um comentário:

Francisco disse...

olá, sou médico veterinário e zootecnista,gostei muito do seu artigo.
agora que sou membro da igreja adventista do sétimo dia tenho sentido uma grande mudança no meu cardápio e gostaria de me tornar vegetariano.
Qual é o seu segredo para "realmente" não comer nada de carne
obrigado pela atenção e aguardo sugestão

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